Nunca é um bom dia pra mudar.
Porque mudar dói.
Mudar tira o chão antes de mostrar o caminho.
Mudar é aceitar que o que te trouxe até aqui talvez já não te leve mais adiante.
É admitir que sua zona de conforto virou sua zona de estagnação.
Mudar é péssimo.
É exaustivo, imprevisível, ambíguo.
É uma ameaça à identidade, uma fricção constante com aquilo que você já domina.
“As pessoas não resistem à mudança. Elas resistem a serem mudadas.”
— Peter Senge
Por isso, mudança quase nunca é estratégica.
Na maior parte das empresas, ela só acontece em modo pânico.
Só entra em cena como consequência de uma crise ou como reação à dor.
Mudamos quando perdemos market share.
Mudamos quando clientes vão embora.
Mudamos quando a inovação do vizinho nos atropela.
A verdade é que a mudança só vira agenda quando é tarde demais.
Por que resistimos tanto a mudar?
A psicologia nos ajuda a entender.
Segundo pesquisas da Harvard Business Review, 70% das tentativas de mudança organizacional falham — e a principal razão não é estratégia ruim, mas resistência humana à perda percebida.
E essa perda pode ser simbólica, emocional, funcional ou de status.
“Toda mudança é, antes de tudo, um processo de luto.”
— William Bridges, autor de Transitions
Mudar exige humildade para admitir que o plano antigo já não serve.
Exige desapego da reputação construída no modelo anterior.
Exige coragem para contrariar aliados e convicções.
E, acima de tudo, tempo emocional para sustentar o desconforto da ambiguidade.
Mudar não é substituir um PowerPoint.
É substituir certezas que você gostava de ter.
E por isso, sempre adiamos.
Adiar é fácil.
É confortável.
É gerenciável.
Criamos roteiros mentais de postergação que nos fazem sentir produtivos sem fazer nada de essencial.
“Ainda não é o momento ideal.”
“Vamos esperar estabilizar.”
“O time não está pronto.”
“Melhor no próximo ciclo.”
“Vamos amadurecer mais a ideia.”
Essas frases, embora pareçam prudência, são sintomas de uma procrastinação elegante.
Segundo estudo da McKinsey (2023), 84% dos líderes reconhecem que suas empresas demoram demais para agir sobre sinais claros de transformação — mesmo quando os dados indicam urgência.
Enquanto isso, alguns já começaram.
A única vantagem competitiva real que existe hoje é temporal.
Enquanto a maioria procrastina com um pacote viral de desculpas verdadeiras, alguns vão lá e simplesmente fazem.
E acertam antes.
Aprendem antes.
Escalam antes.
Exemplo?
A Adobe, que foi das últimas empresas a adotar software por assinatura em 2012 — e colheu os frutos anos depois, saindo de US$ 4 bilhões em receita para mais de US$ 19 bilhões em 2023, justamente por mudar a tempo.
A Netflix, que abandonou o aluguel físico quando ele ainda dava lucro — e virou a maior empresa de streaming do planeta.
A Microsoft, que trocou Ballmer por Satya Nadella e passou a matar linhas inteiras de produto para colocar o cliente no centro e a nuvem como novo motor. Hoje vale mais de US$ 3 trilhões.
Essas empresas não mudaram porque precisavam. Mudaram porque entenderam que precisariam.
“A oportunidade está no tempo entre o sinal fraco e a reação da maioria.”
— Amy Webb, futurista e autora de The Signals Are Talking
Por isso, a oportunidade nunca foi tão grande.
O mundo está distraído.
O mundo está cansado.
O mundo está empurrando a mudança com a barriga — com medo, com cansaço, com apego.
E em terra de distração, quem tem foco é rei.
Quem se antecipa, governa.
Quem sustenta o desconforto, transforma.
Quem muda quando ainda não precisa, colhe quando todos estão em pânico.
Hoje não é um bom dia pra mudar.
Mas é por isso mesmo que hoje é o melhor dia para começar.
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Esse lance de “saia da zona de conforto” é mais uma daquelas frases motivacionais vazias que a gente repete sem pensar. Se alguém cobrasse royalties dessa frase ia ficar rico.
Estratégia Dói
É comum associar estratégia a projeção, ambição e vantagem competitiva. Mas quem vive a estratégia real, no cotidiano de decisões difíceis, sabe: estratégia é antes de tudo um exercício de perda. Mais do que mover peças, é abrir mão de possibilidades. Mais do que apontar para o futuro, é